Thursday, January 25, 2007

"Museu" do Erotismo de São Paulo

[matéria do site Guia de Motéis - 25/jan/2007]

http://www.guiademoteis.com.br/materia.aspx?id=000100040000C


O sexo além das quatro paredes
Por Luiz Filho

São Paulo é uma cidade onde as pessoas estão sempre apressadas. O corre-corre, a agitação, o estresse. Dá aquela sensação de estar sempre atrasado para alguma coisa, típico do paulistano. De carro ou de ônibus, o cidadão nunca percebe o que acontece a sua volta. Como cavalos emparelhados na baia de largada, prontos para o disparo das seis da tarde. E o doce lar é a linha de chegada. Jantar, mulher emburrada, filhos gritando, contas e o William Bonner dando "boa noite". Para quem passa pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio não é diferente. Ali se encontra um casarão antigo, desses bem grandes, típico das famílias endinheiradas que ali viviam durante os anos de ouro da região.

Na fachada desse casarão observa-se uma placa onde se lê "Canal X Locadora de Filmes Eróticos". Na hora do rush não tem como não perceber. Para as pessoas mais comportadas deve pintar aquele pensamento: "Coisa de punheteiro!". Mas poucos sabem que ali funciona o Museu do Erotismo de São Paulo. Na verdade, não é um museu porque não existe um curador, apenas um colecionador. Trata-se de Alfred Smith Palliser. Peruano radicado no Brasil há mais de 30 anos, começou a guardar peças relacionadas ao erotismo quando fazia suas viagens pelo mundo. A quantidade delas perto de museus eróticos como o de Amsterdã, Miami e Nova Iorque é bem humilde. Cerca de 300 peças fazem parte de seu acervo. "Comecei a guardar de 10 anos para cá", explica o colecionador.

Na realidade, a maioria dos objetos são réplicas que o próprio Alfred mandou fazer ou comprou pelo mundo afora. Mas existe uma que é o xodó do proprietário: uma folhinha de calendário do ano de 1955 com a foto da famosa pin-up Marilyn Monroe, que ele diz ser original da época. Esse calendário escandalizou a sociedade americana na ocasião e, a partir disso, surgiram dezenas de mulheres que posaram para folhinhas iguais àquela. O resto da história nós já conhecemos. É só passar numa banca e ver a quantidade de revistas de nudismo (y otras cosas) que existem.

O Museu do Erotismo se confunde com a locadora no espaço físico. Para ver e apreciar as peças, as pessoas têm que passar por prateleiras carregadas de filmes pornôs. Alguns não deixam de ser peças de museu. Além das três salas onde apenas se encontra o acervo, as paredes da locadora estão cheias de cartazes de filmes eróticos, da época das marchinhas de carnaval, e algumas réplicas de quadros. Entre eles estão pequenas pinturas feitas por Pablo Picasso (sem trocadilho, por favor!) que, ao invés de escrever seus sonhos e acontecimentos diários, pegava um papel e desenhava. Outro pintor famoso que adorna as paredes da locadora-museu é o colombiano Botero. Ele fez fama pintando quadros de mulheres obesas nuas - para não dizer gordinhas peladas.

Ao subir para o segundo piso, deparamo-nos com uma das curiosidades do local. Não tem como não reparar naquela estátua com chifres e um pênis enorme. Uma espécie de diabo, da altura de um anão, com feição sádica e um pinto de cavalo (duro!). Essa figura é a representação de Priapus (deus romano da fecundidade). Na Antigüidade, as jovens virgens, que estavam prestes a se casar, sentavam em cima do falo gigante para serem defloradas (comidas) por ele. Diziam que isso dava força na gestação e felicidade sexual. Será que as mulheres da época conseguiam transar com alguém depois de conhecerem Priapus, o jumento de Roma? Sei não. Dizem as péssimas línguas que se os homens esfregarem a mão no super falo do deus da fecundidade, terão energia sexual até a velhice. O repórter do Guia desconfia dessa lenda e prefere a mistura amendoim com catuaba.

Por falar em falo e romanos, na parte de baixo do museu, onde está a maioria das peças, podem ser vistas réplicas de pequenos amuletos em forma de pênis. Esses amuletos eram colocados na entrada das casas e serviam como proteção. Alguns pais faziam colares desses objetos e penduravam em seus filhos com o mesmo objetivo.

Não existe uma ordem cronológica ou geográfica na coleção do peruano Alfred. Espartilho e cinto de castidade dividem espaço com artigos do carnaval de Nova Orleans. Um quadro recheado de clitóris de vários tamanhos e outro com diversos tipos de vaginas (nenhuma é igual à outra) são vizinhos das cerâmicas eróticas Huacas da antiga civilização Nazca, que habitava o litoral peruano bem antes da primeira caravela aportar por aqui.

Apesar da pequena quantidade de peças no museu, o colecionador faz questão de que elas contenham as descrições e um breve histórico. Dá para perceber que ele gosta de pesquisar sobre o assunto. Numa saleta onde dois manequins (uma profissional e um cliente com o pênis de fora) representam um bordel dos anos 40, deparamo-nos com dois quadros que contam a história das antigas polacas. Essas prostitutas judias, na sua maioria polonesas pobres, eram trazidas pela Zwi Migdal - máfia judaica que atuava pelo Brasil e que, durante as décadas de 1930 e 1940, controlou cerca de três mil prostitutas e mais ou menos mil casas de tolerância. A maioria dessas casas encontrava-se em São Paulo.

Ainda há mais coisas bacanas para se ver no Museu do Erotismo e, se você tiver um tempinho, assista ao vídeo pornô dos anos 20 que é transmitido enquanto observa as peças. Uma espécie de Charlie Chaplin com Buttman. Não chega a ser algo que passaria numa TV de motel - é até cômico, mas, para quem gosta de cinema mudo e sexo, essa mistura enche os olhos de alegria.

Se você quer saber mais sobre o museu ou apenas conversar com Priapus, segue o serviço:

Museu do Erotismo de São Paulo/Canal X Vídeo Locadora:
Avenida Brigadeiro Luís Antônio 2543 - Jardim Paulista/SP.
Tel.: 11 3289-7575 (das 12h às 22h)